A hipocalcemia é uma das principais doenças que acometem as vacas leiteiras, em geral até 72 horas após o parto. Esse desequilíbrio no cálcio sanguíneo é advindo da grande demanda do mineral para produção de colostro e de leite. Ademais, a vaca necessita de alguns dias para reestabelecer os níveis sanguíneos de cálcio por vias fisiológicas, desse modo, o animal permanece por um período com os níveis plasmáticos de cálcio abaixo do ideal. Outro fator muito importante relacionado à hipocalcemia é a capacidade dessa condição em predispor a outras doenças como cetose, deslocamento de abomaso, mastite, metrite, retenção de placenta e diminuição da fertilidade. Essas enfermidades são muito comuns no período de transição, sendo muitas vezes associadas à hipocalcemia.
Atualmente a hipocalcemia é classificada em clínica e subclínica, sendo a clínica comumente denominada de “Febre do Leite” e dividida em 3 estágios. No estágio I os animais apresentam uma série de sinais, como aumento da frequência cardíaca, fraqueza, orelhas frias, tremores musculares, pupilas dilatadas, temperatura retal baixa e redução das contrações ruminais, contudo, normalmente o produtor e os funcionários da propriedade não identificam a doença nesse estágio. A principal forma observada nas fazendas é a partir do estágio II, quando as vacas assumem a posição de decúbito ventral – quando deitam de barriga para baixo – e em seguida o estágio III quando o decúbito é lateral – animal deitado de lado.
Suplementação de cálcio
O manejo da hipocalcemia, clínica e subclínica, compreende a suplementação de cálcio. Atualmente, existem suplementos orais na forma de bólus, gel e suspensões, bem como soluções injetáveis para aplicação intravenosa ou subcutânea. O uso de bólus oral vem sendo favorecido em detrimento das suspensões e dos géis, pois estes apresentam algumas desvantagens importantes. As suspensões, por serem na forma líquida devem ser aplicadas via sondagem do animal, quando feitas de forma incorreta poderão trazer riscos de pneumonia por aspiração ou morte por asfixia. Com relação aos géis, sua alta viscosidade dificulta a administração podendo levar a erros de dosagem.
Suplementação Oral
Para a suplementação oral a fonte de cálcio e a forma física utilizadas influenciam na absorção e resposta sanguínea. Um dos principais suplementos utilizados é o cloreto de cálcio pois possui alta biodisponibilidade e tem a capacidade de gerar uma resposta acidogênica, levando ao aumento na mobilização das reservas de cálcio do animal. O propionato de cálcio também é uma opção para a suplementação, contudo, possui absorção mais lenta sendo necessária a administração em doses mais altas. Outra opção interessante, principalmente para ser utilizada em associação com outras formas, é o sulfato de cálcio. Esse suplemento possui uma liberação mais lenta, mas sustentada, sendo interessante para manter os níveis de cálcio plasmático mais constantes e por mais tempo. O formiato de cálcio, muito conhecido por sua presença em produtos comerciais, é também uma opção vantajosa capaz de aumentar o cálcio ionizável (iCa) e diminuir a concentração de β-hidroxibutirato.
Suplementação Injetável
Com relação a suplementação injetável existem diferentes recomendações dependendo se a aplicação for subcutânea ou intravenosa. A subcutânea requer uma boa perfusão no local da administração, sendo ineficaz em animais desidratados e/ou gravemente hipocalcêmicos. O conteúdo da injeção é irritante para os tecidos, desse modo, restringe-se a aplicação a não mais do que 75 mL de uma solução de 23% de gluconato de cálcio, por ponto. Além disso, não se deve administrar o suplemento em soluções com glicose, visto que ela é mal absorvida por via subcutânea, ocasionando risco de abcesso e descamação. Apesar desses fatores, a aplicação subcutânea costuma apresentar boa absorção inicial, mas os níveis de cálcio sanguíneo tendem a retornar aos níveis basais dentro de 6 horas. Por isso, para que a suplementação de cálcio subcutânea se iguale ao suporte mais duradouro ocasionado pela suplementação oral há a necessidade de aplicação de repetidas doses do suplemento por essa via ou complementar a suplementação por via oral.
A suplementação intravenosa possui indicações bem específicas, pois proporciona um rápido aumento na concentração sanguínea de cálcio. Um dos principais problemas relacionados ao acelerado incremento da calcemia é a possibilidade de toxicidade cardíaca. Ademais, essa rápida elevação interrompe a mobilização das reservas e é normalmente seguida de um brusco declínio da concentração de cálcio no sangue. Consequentemente, o animal após poucas horas pode voltar ao estado de hipocalcemia. Portanto, a suplementação intravenosa é indicada apenas para vacas em decúbito e deve ser realizada lentamente evitando elevação abrupta nos níveis sanguíneos. Como os níveis retornam ao estágio inicial após poucas horas o ideal é realizar uma suplementação oral complementar, evitando, assim, a reincidência.
Conclusão
A hipocalcemia é uma condição rotineira nas fazendas e seus prejuízos não devem ser ignorados. É importante ressaltar a necessidade de um adequado manejo nutricional dos animais, bem como acompanhamento de um médico veterinário para que o tratamento da hipocalcemia seja realizado. Além da suplementação de cálcio curativa, existem medidas nutricionais preventivas que podem ser realizadas para impedir que o animal desenvolva a doença. No período pré-parto, uma dieta acidogênica pode ser adotada, estimulando as vacas a mobilizarem suas reservas fisiológicas do mineral, assim, elas já estão preparadas para a alta demanda que ocorrerá no pós-parto. Essa mobilização fisiológica está representada pela retirada de cálcio armazenado nos ossos, para que ele atinja a corrente sanguínea e possa atender as demandas do animal em outros órgãos.
A VETUS oferece consultorias de manejo nutricional, realizando a formulação da dieta visando as diversas as demandas dos animais da propriedade, levando em conta as diferentes necessidades que cada categoria e espécie animal requerem.
Helen Caroline Kruger Klahr
Referência:
EBELING, J. M., KLAHR, H. C. K., LONDERO, U. S., CORRÊA, M. N., ALMEIDA, R. Hipocalcemia e Suplementação de Cálcio em Vacas Recém-Paridas. Revista Leite Integral, nov. 2021.
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